quarta-feira, 27 de outubro de 2010

HISTÓRIA DA IBCOR: A origem

Capítulo I

A IGREJA BATISTA DO CORDEIRO: a origem.

A Igreja Batista do Cordeiro foi organizada em 15 de novembro de 1905, a partir do da congregação da Primeira Igreja Batista do Recife, iniciada em 1901 por Salomão
Ginsburg, no bairro do Cordeiro, que a dirigiu e orientou até sua organização em Igreja. O culto festivo da sua organização ocorreu na manhã do dia 15 de novembro de 1905, dirigido pelo missionário Salomão Louis Ginsburg, auxiliado pelo Pastor Antonio
Marques da Silva, com a presença de muitos membros da Igreja Batista do Recife, inclusive o Diácono Arthur de Cristo Lindoso e integrantes da Sociedade Auxiliadora de Senhoras: "A Sociedade Auxiliadora de Senhoras da Igreja (1ª do Recife)comemorou o dia 15 de Novembro com passeio à Iputinga para assistir à organização da nova Igreja Baptista, que se realizou às 11 horas da manhã, sendo o serviço dirigido pelo Pastor Salomão Ginsburg, auxiliado pelo Pastor Antonio Marques e irmãos leigos" (OJB de 15/12/1905, p. 7).

Nove dias antes, a Igreja Batista do Recife concedera cartas de transferência a vinte e dois dos seus membros, residentes na Iputinga, para se organizar em Igreja, entre estes quinze recém batizados, conforme noticiado no Jornal Batista: "Na sessão mensal da mesma Igreja (do Recife) realizada em 6 de Nov, foi deliberado conceder cartas demissórias aos irmãos residentes na Iputinga para ali se constituírem em Igreja da mesma fé e ordem. Ela foi de fato organizada a 15 conforme noticia acima mencionada e para assistirmos a organizamos recebemos amável convite da igreja, mas não pudemos dele nos utilizar" (OJB de 15/12/1905).

A nova Agência do Reino de Deus no Recife adotou o nome de “Egreja de Christo denominada Baptista, na Iputinga” e o registro da sua fundação está publicado no Jornal Batista de 15 de dezembro de 1905: "O dia 15 de Nov(embro) foi um dia memorável na historia dos Batistas pernambucanos. Não posso contar de tudo, mas, sim, dar um ligeiro esboço somente do que se fez naquele dia. Às 11 horas da manha organizou-se a Igreja Batista de Iputinga. O salão estava lindamente ornamentado. Muitos irmãos tinham vindo da cidade para assistir aquele ato. Por uma corrente de circunstancias imprevistas, os quatros Pastores esperados que deviam tomar parte na ocasião não estavam presente, mas, nem por isso se deixou de realizar o trabalho. O irmão Antonio Marques foi eleito Pastor e o irmão Arthur Silva (Lindoso), secre-tário. A igreja conta com 22 membros" (OJB, de 15/12/1905, p. 7).

A Egreja de Christo, denominada Batista, na Iputinga, nos primeiros anos, usou outros nomes como registram suas atas: Egreja de Christo no Cordeiro (1906); Egreja Evangélica Baptista na Villa do Cordeiro (março de 1909); Egreja Evangélica Baptista do Cordeiro (novembro de 1912); e Egreja Baptista do Cordeiro (agosto de 1914). Finalmente adotou o nome de Igreja Batista do Cordeiro (1915). Era a segunda igreja batista organizada no Recife e a décima quarta no Estado. O início desse trabalho fora a congregação organizada em 1902, por Salomão Ginsburg e por ele foi dirigida até essa data (15 de novembro de 1905).

Organizada a Igreja em Concílio composto pelos pastores Salomão Ginsburg (IB Recife) e Antonio Marques (IB Nazaré da Mata) e do diácono Arthur Lindoso, foi escolhido Antônio Marques da Silva para pastoreá-la. A Igreja Batista do Cordeiro, ao ser formada, era uma comunidade de pessoas de origem humilde, a maioria oriunda do interior do Estado, alguns fugindo da perseguição movida contra as Igrejas em Bom Jardim, em Ilheitas e em Paudalho. Os seus integrantes eram trabalhadores de indús- trias têxteis existentes nos bairros da Torre, do Cordeiro e da Várzea. O Pastor Salomão Ginsburg, seu fundador, foi, durante cinco anos, o seu dirigente, pessoal-mente e, nas ausências, auxiliado por outros missionários e seus auxiliares. Organi zada em Igreja, Salomão escolheu Antônio Marques da Silva para o primeiro pastor e, quando este deixou Pernambuco, outro auxiliar (Manoel da Paz) veio para o mesmo pastorado.

Os membros fundadores da Igreja Batista do Cordeiro não são todos conhecidos, em razão da perda da Ata de organização. A consulta das primeiras atas traz os nomes de alguns: Felinto Pereira Freire, José Pereira Freire, João Baptista do Rego, Francisca Maria de Araújo, Manoel Jose de Souza, José Mariano do Couro, Sebastião de Souza Marques, Luiz Bezerra, José Miguel, Maria Norberto da Silva, Sebastião Moyses de Souza, Anna Baptista da Luz, João Ramos, Guilhermina Francelina Ramos, Maria Izabel da Silva, Belmira Pereira Freire e Neomisia Pereira, faltando serem identificados cinco.

Era a Igreja situada na Vila do Cordeiro, na Iputinga, próxima da estação da linha férrea Recife-Várzea, no local Arthur de Christo Lindoso – seu nome correto, segundo sua sobrinha-neta Mirtô Lindoso Jamil -, foi um dos lideres leigos batista em Pernam buco, esteve presente a inúmeros de eventos da denominação: organização de igrejas, concílios para consagração de Pastores, aula inaugural do Seminário Batista entre outros. Em vários destes atos foi secretário do ato, guardando anotações que serviram de roteiro a Antonio Neves Mesquita, na redação da História dos Batistas em Pernambuco e da História dos Batistas no Brasil, como este declara. Arthur de Cristo Lindoso, era natural de Tatuamunha (Porto Calvo, Alagoas), tio paterno e quem criou Livio Cavalcante Lindoso, mais tarde Pastor (IB de Olinda, IB da Capunga e outras (Nota do Autor).

No período em que era Congregação, nela estiveram pregando José Piani (semina-rista), Guilherme Cannada (missionário) e Arthur Lindoso (diácono) (MESQUITA. Antonio N. HISTÓRIA DOS BAPTISTAS EM PERNAMBUCO, 1930, p. 110), no local que veio a se denominar Bomba Grande, em razão da bomba d´agua de abastecimento do trem que viajava até a Várzea. Segundo outros a expressão Bomba Grande decorre da existência de um grande bueiro sobre o riacho do Cavouco, que nasce nas terras do antigo Engenho do Meio, de João Fernandes Vieira.

Organizada a Igreja Batista do Cordeiro (IBCOR) e escolhido seu primeiro Pastor Antônio Marques da Silva, um dos seus auxiliares de Salomão Ginsburg, este logo deixou o Pastorado, face á necessidade dos seus préstimos em outra igreja. Salomão Ginsburg escolheu outro auxiliar seu em 1906, para pastoreá-la, o Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz, que a dirigiu por um breve período, deixando o Pastorado para pastorear a Igreja Batista de Nazareth da Mata.

Cabe aqui abrir um parênteses para explicar a escolha de pastores. Nos primórdios do trabalho Batista em Pernambuco, como noutros estados, havia um missionário respon-sável pelas igrejas existentes e não havia um Pastor para cada uma igreja. Os missio-nários e os auxiliares se revezavam no cuidado e no pastoreio das igrejas do campo, pregando, ministrando a ceia e dirigindo todo o trabalho. Na época, poucas Igrejas remuneravam seus pastores, sendo citadas, a propósito, a IB de Nazaré e a IB da Torre, as primeiras a fazê-lo. Anos mais tarde as igrejas começam a contribuir, de forma incipiente, para o sustento dos seus obreiros.

A Igreja Batista do Cordeiro, ao longo da sua história,foi dirigida pelos pasto-res: (1) Antonio Marques da Silva (15.11.1905-1906); (2) Manoel Corintho Ferreira da Paz (1906-27.01.1907); (3) José Pedro da Silva (27.01.1907-10.05.1908); (4) Robert Edward Pettigrew (10.05.1908-06.10.1908); (5) Manoel Corinto Ferreira da Paz (07.11. 1908 - 30.04.1926); (6) Sebastião Tiago Correa de Araújo (1926 - 1951); (7) David Mein (1951 - 1981); (8) Amauri Munguba Cardoso (1981 a 1989);(9) Roberto Amorim de Menezes (1989 a 1999); (10) Flávio Germano de Sena Teixeira (1999 a 2004); e (11) Miquéias da Paz Barreto (2004 a 2005). Nesta galeria de ilustres servos do Deus Altíssimo, grandes pregadores do Evangelho de Jesus Cristo, queremos incluir e destacar o fundador da Igreja Batista do Cordeiro, o missionário Salomão Ginsburg, que a dirigiu enquanto Congregação da Igreja Batista do Recife (1901 - 1905).


Salomão Ginsburg, o Fundador (dados biograficos).

Salomão Luiz Ginsburg nasceu em lar judeu em Suwalki, na Polônia, em 6 de agosto de 1867. Cresceu alimentando dúvidas sobre alguns textos das Escrituras Sagradas, dos quais pediu esclarecimento ao seu pai, que não as deu. A curiosidade exacerbada pela negativa de resposta a indagação levou-o a buscar resposta às suas dúvidas, encon-trando-as entre os cristãos ingleses, onde encontrou quem explicasse com clareza os textos questionados. Resolvido a aceitar a Cristo como o Messias e seu Salvador, foi renegado pela família. Abrigado pelos congregacionais ingleses, passou a ser motivado a pregar a Cristo a outros. Aspirando vir ao Brasil como missionário,
esteve em Portugal aprendendo a língua.

Chegando ao Recife, enviado pela missionária congregacional, Salomão Ginsburg passou a ter contato com o missionário Batista Zacarias Taylor, que vinha à cidade com regularidade, visando restabelecer o trabalho Batista que existira no Recife (1ª Igreja Batista do Recife). Esses contatos decorriam do fato de Taylor se hospedar na residência do missionário congregacional a quem Salomão Ginsburg substituia. Salomão e Zacarias discutem aspectos doutrinários divergentes entre suas igrejas e a forma bíblica correta do batismo. Examinando com maior aténção os textos bíblicos, Salomão se convenceu de que a forma correta do batismo bíblico era por imersão. Havendo exposto o assunto perante sua congregação e tendo mantido os contatos com os missio-nários Batistas, dirigiu-se a Salvador, onde pediu para ser batizado nessa forma.

O missionário Zachary Clay Taylor o batizou em Salvador (Bahia) e, logo em seguida, foi ele consagrado como Pastor Batista para exercer o Ministério da Palavra em 19 de outubro de 1891. Retornando ao Recife, após ser nomeado missionário da Missão Norte-Americana, passa a trabalhar para dinamizar o trabalho Batista no Estado
(SILVA, Leonice Ferreira da, PRIMEIRA IGREJA BATISTA DO RECIFE: Episódios da sua
História, p. 27-31). Salomão Ginsburg participou da reorganização da Igreja Batista do Recife e, mais tarde, foi seu Pastor por dez anos. Fundou o Seminário Batista de Pernambuco e organizou as Igrejas Batistas em: (1) Jaboatão (1901), (2) Garanhuns(1901); (3) Siriji (1903), (4) Cortez (1903); (5) Palmares (1903); (6) Cordeiro (Recife, 1905); (7) Gameleira (Rua Imperial, 1905);(8) Atalaia (AL, 1907); (10) Torre (1908) e (11) Cabo (1908).

O crescimento do trabalho Batista nos vários campos (baiano, carioca e pernam-bucano), separados por distancias continentais, demandava a existência de uma enti-dade para coordenar os esforços do trabalho nas várias localidades, para atender à finalidade proposta. Os Batistas, historicamente, se organizavam em Convenções. Assim, Salomão Ginsburg sonhou e se articulou com outros dirigentes do trabalho Batista e concretizaram o sonho de organizar a Convenção Batista Brasileira. Reis Pereira, com justiça, chama Salomão Ginsburg de “o Pai da Convenção Batista Brasileira" (REIS PEREIRA, Jose dos. HISTORIA DOS BATISTAS 1881-1982).

Salomão Ginsburg conheceu, em Londres, a enfermeira Amelia Carolina (Carrie) Bishop, que também tinha vocação missionária. Ficaram noivos, combinaram que, quando ele se estabelece no Brasil, mandaria buscá-la para aqui casarem. Chegando à cidade do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), ele mandou buscar a noiva. Carrie e Salomão casaram-se em 1891, em Salvador (1892). Infelizmente, ela faleceu quatro meses depois, vitimada pela febre amarela. Salomão se tornou Batista, sendo nomeado missionário da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Junta de Richmond) quando conheceu Emma Proctor Morton, missionária solteira que trabalhava no Brasil. Casou-se em 1º de agosto de 1893, na Igreja Batista de Niteroi, em cerimônia oficiada pelo missionario Jamees Jackson Taylor. Emma Proctor Morton nascera em 16 de Janeiro de 1865, em Owensboro, Kentucky (USA), filha de Henry Thomas Morton (1832-1906) e Mary Arvila Proctor (1844). Emma Ginsburg, companheira amorosa e dedicada ao marido e ao trabalho missionário, arregimentou mulheres e moças dos locais onde o casal trabalhou, engajando-as no serviço do Senhor, organizando as primeiras Socie-dades Auxiliadoras de Senhoras (hoje União Feminina Missionaria). Mulher dinâmica, com luz própria, valorosa companheira do maior missionário batista que o Nordeste do Brasil recebeu, realizando, em dez anos, grandes coisas para o Senhor da Seara. O casal Ginsburg teve os filhos Arvilla Henrieta (1894, Brazilia, Claire (1897-1972, Robert (1900-1958, Henrieta (1904-1994, Emily (falecida na infância, em Kansas, Missouri), Estelle Ginsburg e Louis (falecido solteiro). Os filhos casados deram ao casal Ginsburg sete netos e mais de duas dezenas de bisnetos, criados e residentes nos Estados Unidos, para onde os levou Emma Ginsburg ao retornar, depois do falecimento do esposo, indo residir em Kansas, no Missouri, onde faleceu em 1930.
Salomão Ginsburg faleceu na Cidade de São Paulo, em 1º de abril de 1927, com sessenta anos incompletos, depois de uma vida plena de realizações no Reino de Deus, sendo sepultado no Cemitério Protestante.

A Perseguição em Bom Jardim

Ocorreu em Pernambuco (1898) uma das maiores perseguições contra os Batistas no Estado. A chegada de Salomão Ginsburg ao Estado coincidiu com a perseguição movida aos crentes, em particular em Bom Jardim, “onde a Igreja foi praticamente destruída e seus doze membros caçados como malfeitores10” (SILVA: 2004, 57). O trabalho Batista em Bom Jardim fora organizado pelos esforços do missionário Entzminger e do Pastor Antonio Marques. Na residência do convertido Primo Feliciano da Fonseca, foi aberta uma congregação, o que desagradou a Nicolau Antonio Duarte, proprietário do Engenho Oiteiro, e a Motta Silveira, chefe político local. Estes, ao saber da visita do Pastor Antonio Marques à cidade, cada um, de per si, contrataram um grupo de desordeiros para surrar e matar os crentes, os quais, sabendo do perigo, fecharam as portas da casa. O primeiro grupo de inimigos se postou diante da casa e, chegando o segundo grupo, julgou que se tratava dos crentes. Começaram a atirar. A troca de tiros resultou na morte de várias pessoas. Os crentes escaparam pelos fundos da casa, mas as mortes resultantes do conflito lhes foi atribuída. Eles foram caçados e quatro deles presos, inclusive o Pastor Antônio Marques da Silva.

Essa era a situação quando Salomão Ginsburg assumiu o Pastorado da Igreja Batista do Recife e a direção do trabalho Batista em Pernambuco. Chegando ao Estado bem recomendado, inclusive pelo Vice-Presidente da República, Francisco de Assis Rosa e Silva, chefe político do Estado e, como ele, filiado à Maçonaria, foi ter com o governador do Estado, Antonio Gonçalves Ferreira. Este o pôs a par do clima da região e tentou dissuadi-lo de viajar para ali. Salomão Ginsburg retrucou que se lhe dessem garantias e segurança, ele estava disposto a enfrentar a situação.

O governador forneceu segurança necessária, demitiu o chefe de polícia de Bom Jardim e nomeou o coronel Joaquim Gonçalves, que se tornou amigo dos crentes. Salomão
Ginsburg se dirigiu para lá com o missionário Jefté Hamilton, acompanhado de um destacamento de soldados para lhes dar garantias. Hospedou-se na casa de Joaquim
Gonçalves, o novo chefe de policia. Salomão Ginsburg visitou as autoridades, inclusive o juiz que presidiria o julgamento dos crentes. Estes foram julgados e inocentados. Todavia, a prudência os aconselhou que mudar da localidade. Alguns desses irmãos, inclusive o Pastor Antônio Marques da Silva e Primo da Fonseca e sua família, deram origem à Congregação do Cordeiro em 1901 (SILVA, 2004, p. 57-59).

O Bairro do Cordeiro. O bairro do Cordeiro tem sua origem mais remota nas terras do engenho de Ambrosio Machado, adquiridas no Século XVI. O seu proprietário era agricultor e senhor do Engenho Cordeiro, situado na Várzea do Rio Capibaribe, vizinho
do Engenho da Torre, junto do riacho Cavouco, que nasce nas terras do Engenho do Meio, atravessa a estrada pública de Caxangá e vai desaguar no Rio Capibaribe. Na
margem deste rio, havia a passagem de Ambrosio Machado (assim denominada por estar situadas nas terras desse proprietário), dando acesso ao engenho de Jerônimo Paes, mais tarde chamado de Engenho da Casa Forte. Ambrosio Machado era pernambucano de ilustre família e participou da luta contra os invasores holandeses. Derrotadas as tropas luso-brasileiras, em 1635 após a queda do forte do Arraial do Bom Jesus, os integrantes destas se retiram em direção à Bahia, acompanhados de grande quantidade da população civil. Entre os que emigraram estava Ambrosio Machado, presumindo-se que
morreu na retirada ou durante as lutas, porque não se tem mais noticias do mesmo depois dessa época. Abandonado por seu proprietário o Engenho de Ambrosio Machado,
foi confiscado pelos holandeses e vendido a uma da sua nação. Ocorrendo a derrota dos holandeses, com a restauração da soberania do rei de Portugal d. João IV sobre a capitania, em 1654, as terras do Engenho de Ambrosio Machado foram incorporadas
aos bens da Coroa Portuguesa pela fazenda real (PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto, ARREDORES DO REICFE, p. 17). O vau (passagem) de Ambrosio Machado serviu para a passagem das tropas luso-brasileiras que, sob o comando de Francisco Barreto de Menezes e de João Fernandes Vieira, vieram atacar os holandeses, aquartelados no outro lado do rio, no engenho de Ana Paes. Pereira da Costa, citando um cronista da época, narra o episódio: Chegamos ao ponto de amanhecer no rio Capibaribe na
Passagem de Ambrosio Machado e, achamos que ia tão cheio que não se podia vadear sem grande risco e perigo e não achamos ali batél, canoa nem jangada para passar para a outra banda. Vendo isto, o governador João Fernandes Vieira mandou entrar pela água um mulato seu, grande nadador, para que fosse tomando o vau; e ele entrou pelo rio em seguimento ao do escravo, montado em um cavalo brioso e forte, com água pelo arção da sela e passou para a outra banda. Vendo os nossos soldados que o governador da liberdade estava da outra banda, começaram todos a entrar pelo rio, uns despidos e outros vestidos e calçados, pelas uns aos autos, e com as armas de fogo no
alto, e em breve se puseram todas da outra bandab (PEREIRA DA COSTA, ARREDORES DO RECIFE, 77).

Uma parte destas terras foi ocupada pelo Capitão João Cordeiro de Medanha, que combatéra na guerra da restauração desde o seu início, como ajudante de ordens do chefe João Fernandes Vieira. Nessa parte de terras, ele fundou uma grande plantação de cana-de-açúcar. O local passou a ser conhecida como Engenho Cordeiro e a passagem (vau) no rio como Passagem do Cordeiro. Arrematada, em hasta publica, pelo Capitão José Camelo Pessoa, Senhor do Engenho Monteiro, a venda da propriedade foi regis- trada por escritura publica, lavrada em 16 de novembro de 1707, ficando as terras incorporadas às do engenho Monteiro até o final do Século XVIII. As terras adqui ridas por José Camelo Pessoa, eram constituídas daquelas onde estava cultivado o partido de cana-de-açúcar e outros dois sítios que haviam pertencido a D. Isabel Car-
doso e ao Capitão José Nunes da Vitória, outro militar da guerra contra os holandeses. Adquiridas do proprietário do Engenho Monteiro, no final do Século XVIII, as terras do antigo engenho de Ambrosio Machado, por Sotero de Castro, este fundou um novo engenho (fábrica de açúcar), a que deu o nome de Engenho Cordeiro, em memória do antigo proprietário, João Cordeiro de Medanha, nome pelo qual já era conhecida a localidade. O engenho Cordeiro não teve uma existência longa. Encon-tramos, em 1831, o registro de sua moagem, quando propriedade de Joaquim da Silva Pereira. Porém, mais tarde, deixou de funcionar. Abandonado, restaram apenas a casa
grande dos proprietários, com seu aspecto modificado. A localidade logo se constituiu em povoado, mantendo o nome de Cordeiro, do antigo engenho de açúcar. A partir do século XX, passa a abrigar moradias da massa de operários das fabricas têxteis e de outras industrias da região.

O bairro do Cordeiro é cortado pela Avenida Caxangá, construída no início do século XX e alargada no terceiro quarto desse século. Essa avenida segue o traçado da antiga estrada que ligava a Madalena à Várzea do Capibaribe, em linha reta, e onde havia a ferrovia ligando o centro do Recife à Várzea. O bairro do Cordeiro tem por limites o rio Capibaribe, ao norte; os bairros do Bongi e do Engenho do Meio ao sul; os bairros da Torre e Zumbi a leste; e os bairros da Iputinga e do Engenho do Meio, a oeste. Neste bairro do Cordeiro, com essa tradição histórica, nasceu e se desenvolveu a comunidade religiosa denominada Igreja Batista do Cordeiro, que ora completa o seu Centenário de existência.

Um comentário:

  1. HISTORIA DE UM GRANDE HOMEM DE DEUS QUE DEVEM SER SEGUIDOS PELOS PASTORES

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