quinta-feira, 28 de outubro de 2010

HISTORIA DA IBCOR: o movimento radical


Capítulo IV

A IBCOR E O MOVIMENTO RADICAL (1923 – 1936)


O envolvimento da IBCOR, do Pastor Manuel Corinto Ferreira da Paz e do missi- onário William Carey Taylor, além de outros lideres, teve grande repercussão na vida da Igreja durante mais de uma década. Somente com o final desse movimento foi que a vida da Igreja retomou sua normalidade. No curso desse movimento, as Igrejas do Estado se dividiram em dois grupos antagônicos e foi eliminado do rol de membros o missionário William Carey Taylor.

Episódio constrangedor para a nossa História, como cristãos e como Batistas, por dever de fidelidade não podemos omiti-lo, embora em certos círculos ainda seja tabu tratar do assunto. Reis Pereira, na "História dos Batistas no Brasil (1862–1982)" , declara que “a questão radical foi um recurso que usou o Príncipe das Tre vas para deter a marcha de um movimento que ia ganhando casa vez mais força”. Todavia, nós encontramos no episódio, apesar de tudo, um fator de crescimento do cristianismo evangélico e do trabalho Batista em Pernambuco e noutros Estados. Basta verificarmos as igrejas organizadas no auge do movimento. Ainda que o crescimento
numérico tenha decaído num primeiro momento, posteriormente as agencias do Reino de Deus cresceram e frutificaram.

O Sabor Amargo e os Frutos da Querela. O movimento radical surgiu, de inicio, em razão de divergências entre os missionários americanos e os obreiros nacionais sobre as prioridades do trabalho e sobre a utilização das verbas enviadas pela Junta de Richmond, entre educação (prioridade dos missionários) e evangelização (prioridade dos nacionais), além de quem controlaria os recursos. Os missionários também mantinham em suas mãos os postos de controle do campo, restando aos nacionais os secundários. O problema similar surgira, de início, numa outra denominação, de modo semelhante à questão maçônica, quando obreiros nacionais se indispuseram com missionários norteamericanos, em face de intolerância dos primeiros no tocante à filiação a Maçonaria. Carlos Eduardo Pereira, presbiteriano, influen ciou alguns Batistas com suas idéias, chegando suas idéias até Maceió (Igreja Batista de Maceió, AL), onde houve uma cisão no início do Século XX que foi soluci-onada com a intervenção do missionário Robert Edward Pettigrew. A questão radical teve pano de fundo inicial com a questão do sustento próprio, quando os missionários americanos passaram a defender o principio de que cada igreja devia sustentar o seu obreiro e o maior volume dos recursos deveriam ser encaminhado para educação e outras finalidades. Os missionários, por outro lado, entendiam que a gerência dos recursos financeiros deveria ser deles, em razão da política adotada pela Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos (Junta de Richmond) em relação aos seus campos missionários. Os obreiros nacionais, por seu lado, desejavam administrar esses recursos e aplicá-los no trabalho de evangelização, inclusive no sustento dos obreiros. Há quem diga que houve componente de orgulho das pessoas envolvidas no episódio, de ambos os lados. O fato é que os missionários ainda não consideravam os lideres locais preparados para administrar os recursos financeiros e estes, por
sua vez, se sentiam diminuídos pelo procedimento adotado.

Os obreiros nacionais julgavam inaceitável esta situação e lançaram um mani festo dirigido aos missionários e, não sendo aténdidos, passaram a retaliar, pas sando o que era mera divergência administrativa a se tornar divergência pessoal.
A primeira manifestação pública de insatisfação ocorreu na Convenção Regional, na Igreja Batista em Vila Natan (Moreno), quando o discurso de um missionário na Bahia,
sobre o sustento próprio do obreiro da Igreja, foi duramente criticado pelos nacionais. Outras manifestações ocorreram em lugares e ocasiões diferentes, até a Assembléia Convencional realizada em 1921, na Igreja Batista do Cordeiro, quando a matéria estava pronta para explodir. Os dirigentes convencionais da ocasião, de modo sensato, contornaram o problema que aflorou adiante. A crise eclodiu durante a Assembléia Convencional de 1922, realizada na Igreja Batista de Gravatá. Acarretou a
divisão do trabalho Batista no Estado em dois grupos antagônicos: os radicais e os construtivistas.58 Os radicais tinham o jornal “O Batista Regional”, dirigido durante algum tempo por Manuel da Paz, enquanto que os construtivistas fundaram “O Correio Doutrinal”, dirigido por William Carey Taylor.

Os alunos do Seminário Batista, exceto dois, abandonaram a Instituição, o que levou a maioria das alunas da Escola de Trabalhadoras Cristãs (ETC) a acompanhá-los em solidariedade. Os Pastores nacionais alojaram-nos, de forma provisória, em residência de crentes e depois alugaram uma casa, na Rua Visconde de Goiana, onde instalaram o Colégio e o Seminário Batista Brasileiro para abrigá-los. Esses alunos do Seminário alegaram para suas Igrejas que tinham sido expulsos, e também as alunas da ETC As Igrejas vinculadas ao grupo radical passaram adotar atitudes estranhas, em retaliação, como não conceder carta de transferência a quem discordava da posição adotada e a eliminar do seu rol de membros das Igrejas todos os que se enquadravam nessa situação, algumas vezes fazendo acusações absurdas. O resultado destas eliminações foi a fundação de várias novas Igrejas: (1) IB Zumby (22 de março de 1923), com vinte e três membros oriundos da IB Torre; (2) IB Capunga (19 de abril de 1923), com treze (13) membros oriundos da PIB Recife e recebidos pela IB de Olinda; (3) IB de Afogados (23 de maio de 1923), com treze (13) membros oriundos da IB Rua Imperial; (4) IB da Concórdia (8 de novembro de 1923), com membros oriundos da PIB do Recife, inclusive o Pastor Orlando do Rego Falcão. Estas se definiram como cooperantes com a Missão norte americana, das quais falaremos adiante com maiores detalhes. No período ainda foram organizadas as Igrejas: Brasileira (Moreno); 1ª Beberibe (Recife), de Campo Alegre, de Escada, de Caruaru, do Oiteiro (em Casa Amarela, Recife), de Casa Amarela (Recife), de Cachoeira (Limoeiro), 2ª de Goiana, de Santo Amaro (no Recife), de Timbaúba (reorganizada), e da Várzea (Recife), filiando-se umas à Convenção Batista de Pernambuco e outras à Convenção Batista Regional. Cabe uma observação relevante. Alguns autores registrem que, no primeiro momento, apenas duas Igrejas, a IB de Olinda e a IB de Lagedo, apoiaram os missio- nários. As demais teriam apoiado a Convenção Batista Regional. Entretanto, Isabel Spacov, ao escrever Igreja Batista da Capunga, Documentando sua Formação, demonstra, por registro documental (a ata de fundação) que cinco Igrejas permaneceram apoiando os missionários no litígio: a Igreja Batista de Olinda, pastoreado por Benício Leão; a Igreja Batista de Vermelho e a Igreja Batista de Limoeiro, pastoreadas por Manoel Olimpio de Holanda Cavalcanti; a Igreja Batista de Ilhetas e a Igreja Batista de Lagedo (Goiana), pastoreadas por Leslie Leonidas Johnson. Estas foram as igrejas que se fizeram representar no Concílio de formação da Igreja Batista da Capunga. O ambiente era de verdadeira guerra, com pouco respeito ético aos adversários de idéias, alguns dos quais se tornavam adversários pessoais. Estando a Convenção Batista Regional estava controlada pelos lideres radicais, cujas igrejas recusaram a cooperação com os missionários da Junta de Richmond, estes patrocinaram a organi zação de nova entidade cooperativa, a Convenção Batista Pernambucana, para con-gregar as igrejas, em número de quinze, que decidiram permanecer cooperando com Missão.

A Assembléia de organização da nova entidade foi realizada na IB da Capunga, em 1º de novembro de 1923, quando elegeu a seguinte diretoria: Presidente: José Paulino Raposo Câmara; Vice-presidente: Leonidas Lee Johnson; 1º Secretário: Acácio Vieira Cardoso; 2º Secretário: Stella Câmara; e Tesoureiro: Arnald Edmund Hayes. O movimento radical arrefeceu em 1925, na ocasião em que foram estabelecidas as Novas Bases de Cooperação, tendo a Convenção Batista Brasileira (CBB) tomado uma posição sobre o assunto. Os recursos obtidos, enviados pela Junta de Richmond, seriam administrados pelos missionários. Os levantados pelas Igrejas locais seriam administrados por estas. Essa decisão foi aceita pela maioria dos obreiros e das igrejas do grupo radical, mas onze igrejas, lideradas pela PIB do Recife, inclusive a IBCOR, preferiram se desligar da Convenção Batista Brasileira (CBB), permanecendo afastadas até 1938. Estas igrejas, juntamente com outras dos Estados da Bahia, de Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo, organizaram a Associação Batista Brasileira (ABB), que estabeleceu cooperação com a a NABA – North American Baptist Association, missão norte americana com sede no Estado do Texas.

Os resquícios do movimento radical desapareceram em 1938, quando as trinta igrejas filiadas à Associação Batista Brasileira (ABB), se reuniram em Assembléia, no Templo da PIB da Torre, e decidiram pela dissolução da entidade. Dezenove destas Igrejas retornaram à Convenção Batista Pernambucana, juntamente com líderes desta cados do movimento: Rosalino da Costa Lima, José de Albuquerque Lins, José Domingos de Figueiredo, Natanael Medrado e Adolfo Lira do Rego. Outras não, como a 2ª Igreja Batista da Torre (organizada em 1937) se fundiu com a PIB da Torre, pasto- oreadas pelo Pastor Antonio Marques Lisboa Dorta, mudando o nome para Primeira Igreja Evangélica Batista da Torre. Estava encerrado o primeiro grande cisma entre os Batistas de Pernambuco.

Uma nova cisão ocorreu em 1940, em decorrência de um problema administrativo do Seminário Batista, quando os membros da Convenção Batista Pernambucana deixaram de cooperar com a Missão. Os missionários, novamente, patrocinaram a organização da Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco, passando a haver no Estado duas Convenções, embora ambas filiadas à CBB: a Convenção Batista Evangelizadora de Pernambuco e a Convenção Batista Pernambucana66. Essa situação diferiu em muito da anterior porque, embora divergindo quanto às diretrizes administrativas do trabalho, havia um relacionamento fratérno entre os dois grupos de igrejas e de crentes. Havia troca de cartas de transferência de membros, e os obreiros da igreja de um grupo eram aceitos para Pastorear igrejas do outro grupo.

A cisão, foi finalmente encerrada em 1973, numa Convenção conjunta, onde as duas convenções se fundiram na Convenção Batista de Pernambuco. Essa assembleia conven cional histórica, realizada no Templo da Igreja Batista da Capunga, selou de vez a amizade fratérna existente entre todos os Batistas pernambucanos, que passaram a trabalhar em conjunto para o progresso do Reino de Deus, nesta terra do Leão do Norte, reuni dos na Convenção Batista de Pernambuco. Esta, com a herança das ante-cessoras, soma 110 anos de coordenação do trabalho batista no Estado de Pernambuco.

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